O que você pediria ao gênio da lâmpada?
Eu pediria pra ele entregar essa carta ao seu destinatário.
05 de julho de 2025.
Oi, vó. Tá boa?
Eu queria poder conversar sobre isso com a senhora. Bom, quantas coisas eu queria ter tido tempo de aprender com a senhora, né? Enfim. Eu tô um pouco muito confusa com a IlustraAgro em relação a ser empresa. Não quero ser igual todo mundo, mas se eu não tenho um caminho a seguir como a maioria, pra onde eu vou?
O jeito que eu tô dando é me cercar de exemplos a seguir e também definir os exemplos que não quero. Mas poxa, como eu queria poder trocar ideia disso com a senhora.
Lembra no ano passado quando nós conhecemos a AFOCAPI? Uma associação de produtores de cana que reinveste o lucro para os próprios associados: construíram um hospital que atende toda a região de Piracicaba. Sem falar no cuidado e zelo que tem pelos agricultores e a preocupação de manter viva a história de cada um.
Eu trabalhei com eles ilustrando um Livro de Receitas, o “Tradições à Mesa”. Realizei um sonho de ilustrar receitas, sim, mas mais do que isso, eu conheci pessoas que trabalham do jeito que eu quero fazer a IlustraAgro trabalhar. Em prol da sociedade. Vendo esse projeto, eu tive uma vontade louca de compartilhar tudo isso com a senhora e de alguma forma te senti mais perto.
E acho que fiquei mais perto do lugar que eu quero chegar. Pelo menos tive certeza que ele existia.
Agora em julho conheci a sede da Jacto. E várias vezes eu dei passos desejando poder te levar nesse ambiente e que as pessoas que estavam ali te conhecessem. Andando pela fábrica, eu te ouvi contando histórias de quais máquinas meu vô provavelmente usou da marca e admirada com o progresso e aperfeiçoamento dela. Andando pelo prédio, eu te vi admirando as esculturas e placas da decoração e óbvio, fotografando tudo pra depois transformar em tela pintada à óleo.
Andando pelo ateliê de cerâmica, eu te senti escutando cada palavra da mestre sobre a técnica de modelar, queimar, pintar e queimar de novo. E você provavelmente pensou a mesma coisa que eu e minha mãe: “acho que consigo fazer em casa sozinha” mesmo sem ter experiência ou ferramenta nenhuma.
Andando pelo museu e escutando a história de um senhor imigrante japonês percebi que eu gosto de escutar tudo isso porque um dia eu escutei da senhora. Escutei a história do seu avô negro ou do seu outro avô índio. Escutei sobre a história do Brasil, sobre a física envolvida em um avião e também sobre a sabedoria da natureza. Eu escutei sonhos realizados ou não de alguém que viveu e soube aproveitar a vida mesmo doente.
E depois desses exemplos, olhei pra minha empresa e me senti perdida. Como o senhor José Coral sustentou e realizou os sonhos da AFOCAPI? Como ele não foi pelo caminho mais fácil, mas sim pelo caminho que acredita ser o correto? Como o senhor Shunji Nishimura conseguiu, apenas com uma placa “Conserta-se Tudo” e a meta de atendimento impecável ao cliente, ser uma das empresas com mais patentes no Brasil? E mais do que isso, como construiu esse império e se manteve firme ao propósito de agradecer ao Brasil fornecendo instituições de educação à população?
A senhora provavelmente me explicaria tudo isso com fatos históricos, risadas aqui e ali e um bolo de laranja com guaraná. E no final chegaríamos a conclusão de sempre e do que sempre foi regra lá em casa, né? Temos que estudar, porque conhecimento é algo que ninguém nunca vai nos tirar e uma herança que nunca vamos perder.
Não cheguei à nenhuma conclusão sobre a empresa, continuo perdida. Mas acho que tô mais perto de definir o que a IlustraAgro vai ser. Na verdade já sei o que ela vai ser, eu tô mais perto de descobrir como vamos chegar lá.
As coisas vão dar certo. A vida é boa.
Um beijo, Giselly.